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Autor(a): Yhan Fernandes de Lima Frederico
Revisão: Luiz Emanuel Campos Francelino
Segundo a Organização Pan-Americana da Saúde (OPAS), a alimentação equilibrada é um dos pilares para uma vida longa e saudável, ajudando a prevenir um grande número de enfermidades, principalmente doenças crônicas não transmissíveis, como a fibromialgia, o espectro das doenças cardiovasculares e até mesmo o câncer.
A relação entre o ser-humano e o alimento que ele consome vem sendo moldada desde o período pré-histórico, quando o nomadismo foi gradualmente substituído pelo sedentarismo, e a prática da seleção artificial em plantas passou a ser amplamente utilizada. A introdução de plantas exóticas a ambientes não nativos passou a ser um costume, e, com o passar dos anos, diferentes sociedades estabeleceram diferentes culturas alimentares.
Fatores como as Revoluções Industriais e a posterior Revolução Verde trouxeram avanços tecnológicos que possibilitaram estudos mais aprofundados em inúmeras áreas de pesquisa, entre elas, a nutrição. O mapeamento genético feito pelo Projeto Genoma Humano, publicado pela primeira vez em 2001, tornou a genômica, o estudo do material genético, uma ciência de base, possibilitando o surgimento de diversas outras ciências envolvendo a aplicação do DNA sequenciado. Da junção da genética à nutrição, surgem:
Nutrigenômica: Estuda como certos nutrientes influenciam na expressão gênica. Aborda a forma como o consumo de certos alimentos afeta o controle homeostático do corpo, estabelecendo relações a conceitos epigenéticos.
Nutrigenética: Essa, por sua vez, estuda como a composição genética de um determinado indivíduo afeta seus hábitos alimentares; a resposta do organismo ao consumo de diferentes nutrientes, podendo apontar informações importantes como deficiências nutricionais intrinsecamente ligadas ao DNA do indivíduo.
Em síntese, a nutrigenômica aborda as diferenças entre nutrientes em relação às mudanças que estes podem causar na expressão gênica de indivíduos. Já a nutrigenética, aborda as diferenças entre indivíduos e suas reações a um nutriente ou dieta específica.
Nutrigenômica e Nutrigenética em Humanos
Essas ciências andam lado a lado, contribuindo para avanços nas áreas da saúde humana e animal. A nutrigenômica costuma trabalhar com a inserção de alimentos ou suplementos alimentares à dieta de um indivíduo. Como mencionado anteriormente, ela parte do pressuposto que alguns nutrientes podem alterar a expressão dos nossos genes, e diversos estudos demonstram que certos alimentos têm a capacidade de prevenir ou mitigar os efeitos de doenças. Frutas, legumes e grãos com propriedades antioxidantes, por exemplo, podem ajudar no processo de combate ao estresse oxidativo, que causa um desequilíbrio homeostático no corpo, afetando o funcionamento pleno de células e tecidos, tornando o organismo mais suscetível a enfermidades crônicas não transmissíveis como diabetes, obesidade, doenças inflamatórias e até mesmo alguns transtornos neurodegenerativos.
Enquanto isso, um teste nutrigenético aponta as particularidades de um genoma. Através deste, podem ser descobertas deficiências do organismo quanto à absorção de alguns nutrientes, ou até predisposições a uma gama de doenças altamente relacionadas à dieta, como a obesidade e o espectro das doenças cardiovasculares. Tendo conhecimento de tais particularidades, se torna possível agir em prol de evitar que elas tragam malefícios à vida do paciente, seja através de restrições alimentares ou da prescrição de suplementos nutricionais.
É de extrema importância lembrar que o uso de suplementos alimentares, por mais que em muitos casos benéfico, deve ser prescrito e acompanhado por profissionais, afinal de contas, como exposto, organismos diferentes podem reagir de maneira distinta à mesma substância, e a ingestão exacerbada ou deficiente de nutrientes concentrados pode desencadear em efeitos adversos.
Nutrigenômica e Nutrigenética em Animais
Os conceitos da nutrigenômica e da nutrigenética em humanos também se aplicam a outros animais: o consumo de certos alimentos, por exemplo, pode implicar em mudanças hormonais significativas, afetando fatores como a fertilidade e os tornando mais suscetíveis a algumas doenças infecciosas; em galinhas poedeiras, espécies de galinha destinadas exclusivamente à produção de ovos, a má alimentação pode levar ao aumento na incidência de osteopenia, desordem esquelética que acomete o animal com fraturas ósseas espontâneas, comprometendo a saúde e o bem estar dessas aves.
O avanço de áreas como a bioinformática permite que cada vez mais descobertas sejam feitas nas áreas da genômica nutricional através do processamento e interpretação de grandes volumes de sequências genéticas, trazendo benefícios para animais domésticos e de produção.
Produção avícola
Em cartilha para a Avisite, a pesquisadora Adriana Pedroso relata o uso de probióticos para impedir a instalação de Salmonella no trato intestinal de galinhas - as salmoneloses são doenças com alta taxa de mortalidade que impactam negativamente a produção e a qualidade de vida desses animais. O grupo de pesquisa notou que certas bactérias estavam presentes no trato intestinal de galinhas quando Salmonella não conseguia se instalar, partindo dessa descoberta o desenvolvimento da pesquisa. O probiótico é inserido na microbiota da cama das aves, que, por terem o costume de bicá-la, acabam ingerindo os microrganismos; esses, por sua vez, se associam à microbiota intestinal do animal, a fortificando contra a instalação de Salmonella.
Na mesma cartilha, o professor João Carlos Setubal documenta o uso da bioinformática para o sequenciamento do genoma de aves. Ferramentas capazes de analisar, interpretar e sequenciar dados genômicos são imprescindíveis para o avanço da nutrigenômica, visto que possibilitam comparações mais certeiras entre indivíduos e espécies e facilitam o reconhecimento de padrões genéticos que podem acarretar em complicações específicas.
Rações para animais domésticos
A Hill’s Pet Nutrition é uma empresa líder no mercado de rações para animais domésticos que aplica a nutrigenômica na elaboração de suas receitas. A empresa possui laboratórios de pesquisa dedicados à nutrigenômica e inova ao apresentar rações que influenciam a expressão gênica dos animais, regulando suas vias metabólicas. A Hill’s possui diversas linhas de rações que podem ser vendidas à prescrição de um médico veterinário, contemplando animais obesos ou com sobrepeso, animais com restrições alimentares, e até mesmo animais que sofrem de algum problema que acomete o trato urinário ou as articulações.
Os frequentes avanços nas áreas da genética e da bioinformática disponibilizam cada vez mais informações a serem analisadas, o que aponta a um futuro promissor para a nutrigenômica e a nutrigenética, que possuem elevado potencial de crescimento. Ambas são áreas abrangentes, cujo espectro seria impossível de tratar em um número pequeno de páginas, e o uso dessas ciências para a prevenção e diagnóstico de transtornos e doenças, além do desenvolvimento de produtos e substâncias que promovem o bem-estar de humanos e animais é um grande marco na área da saúde.
REFERÊNCIAS
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