Autor(a): Geórgia Clarisse de Oliveira Sousa
Revisão: Eva Samara Pinto Cunha
DOHaD é um abrangente e multidisciplinar ramo da ciência que busca investigar para entender as origens de doenças ainda nos primeiros estágios de desenvolvimento da vida intra e extrauterina. Nesse contexto, a herança genética de um indivíduo não é o único fator responsável por determinar as doenças, pois a epigenética que inclui fatores ambientais e estilo de vida também vai influenciar, sendo repassada para as gerações e atuando nas alterações da expressão da carga genética do indivíduo, determinando um padrão de doença individual.
Estudos epidemiológicos apontam que o estilo de vida da mãe afeta a saúde do filho pelo resto da vida, o tipo de parto, a dieta materna, tabagismo, estresse materno e tipo de cuidado durante a infância são alguns dos fatores que irão influenciar o modo de expressão dos genes do indivíduo. Durante a década de 70 foram realizados estudos com homens, filhos de mulheres que passaram por um período de escassez alimentar durante a Fome Holandesa, nos resultados esses indivíduos apresentaram padrões diferentes na composição corporal, podendo apresentar desnutrição ou incidência de obesidade, dependendo em qual trimestre foi exposto àquela condição adversa.
Além disso, alguns estudos e hipóteses foram lançadas por pesquisadores como: a “hipótese do genótipo poupador” a qual propõe que o feto é capaz de se adaptar a condições desfavoráveis, a fim de garantir a sua sobrevivência; e também estudos clínicos sobre ”plasticidade do desenvolvimento” que aponta para os efeitos dos estímulos aplicados nos períodos de alta plasticidade como pré-natal, infância e adolescência e como podem gerar alterações persistentes no funcionamento do organismo. Ademais, respostas adaptativas do feto mostram a relação de como o estresse materno sinaliza o ambiente externo adverso para ele, levando a ativação do eixo hipotálamo-hipófise-adrenal (HPA), conferindo ajuste na sua fisiologia e adaptação para sobrevivência.
Godfrey KM, Costello PM, Lillycrop KA. The developmental environment, epigenetic biomarkers and long-term health. Journal of Developmental Origins of Health and Disease. 2015;6(5):399-406. doi:10.1017/S204017441500121X
Uma importante relação, embora pouco intuitiva, é a relação entre a microbiota intestinal, doenças e alguns transtornos mentais. O estudo sobre o eixo intestino-cérebro mostra a relevância do primeiro contato microbiano no início da vida para o desenvolvimento normal. Como por exemplo o fato de que o parto cesário e exposições precoces a antibióticos estão associadas a doenças crônicas, imunomediadas e inflamatórias como asma, diabetes tipo I e obesidade. Além disso, o microbioma também impacta no metabolismo do triptofano e no sistema serotoninérgico, que são responsáveis por regular uma ampla gama de comportamentos, e por isso a sua disbiose pode estar ligada ao autismo. Nessa perspectiva, estudos também sugerem que o surgimento do mal de Parkinson tenha origem primeiro no intestino e não no cérebro.
Levando em consideração o vasto campo de conhecimento que está inserida a Origens Desenvolvimentistas da Saúde e Doença, esse resumo explorou alguns pontos, porém ainda há muito para ser analisado em estudos científicos sobre diversas doenças ligadas à disbiose da microbiota dos indivíduos e também à herança epigenética herdada e repassada. Dessa forma, as contribuições dessa área da ciência já são bastante relevantes e úteis para compreender e buscar novas maneiras de intervenções desses transtornos.
REFERÊNCIAS
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