Biotecnologias Reprodutivas
- Liga Acadêmica De Biotecnologia do Semi-Árido
- 8 de jun. de 2023
- 4 min de leitura
Autor(a): Luiz Emanuel Campos Francelino
Revisão: Eva S.P. Cunha

A manipulação dos processos reprodutivos tem se mostrado de grande valia em diferentes segmentos da vida humana e animal. Criação de animais de melhor valor genético para pesquisa e/o produção de alimentos, alternativas reprodutivas em casos de infertilidade, preservação de espécies em perigo de extinção, supressão de genes deletérios e redução da incidência de enfermidades com origem genética são alguns dos benefícios da manipulação reprodutiva por meio da biotecnologia (Brezina & Zhao, 2012).
O melhoramento genético se dá por meio da seleção artificial de reprodutores para o cruzamento – que expressam fenotipicamente determinada característica ou que possuem em seu DNA genes de interesse, identificados por meio de marcadores moleculares – ou manipulação direta do material genético, de modo a perpetuar caracteres desejáveis ou anular aqueles indesejáveis (SINGH et al., 2012).
A inseminação artificial provavelmente é a técnica mais conhecida, na qual ocorre a coleta dos gametas masculinos para posterior introdução direta no trato reprodutor feminino, sem necessidade de cópula (KOP et al., 2020). Usualmente essa técnica é utilizada em casos de infertilidade masculina devido a leve alteração seminal, alterações no colo uterino ou união homoafetiva feminina (NILES et al., 2019). Para os animais, permite aproveitar o potencial reprodutor masculino, auxiliar no controle de doenças, padrão zootécnico e reduzir acidentes no processo de monta natural (GIBBOS et al., 2019). Por outro lado, a inseminação artificial requer operadores bem treinados para coleta do sêmen, armazenamento adequado e posterior inseminação, acompanhamento do ciclo reprodutivo da fêmea – ou estímulo a um novo ciclo em um processo conhecido como Inseminação Artificial em Tempo Fixo (IATF) – e a utilização em rebanhos de apenas um macho reprodutor pode resultar em perda de variabilidade genética.
Entre algumas das técnicas que possibilitam a fecundação fora do organismo da fêmea, a produção in vitro de embriões (PIVE) permite a obtenção de embriões viáveis a partir de fêmeas saudáveis de alto valor genético e aquelas que não estão mais aptas a produzirem descendentes pelas técnicas convencionais (MELLO et al., 2016). Os autores consideram esta técnica como vantajosa quando buscamos maximizar o potencial reprodutivo de fêmeas jovens, que aos 6 meses já produzem gametas viáveis porém não atingiram maturidade sexual. Porém, pelo mesmo motivo, a qualidade do ovócito coletado varia de acordo com a fêmea selecionada. Ainda, é considerado um processo laborioso e de alto custo, que necessita da coleta dos ovócitos com posterior maturação, fecundação e cultivo in vitro do zigoto.

A injeção intracitoplasmática de espermatozóide (ICSI) diz respeito a injeção mecânica de um único espermatozóide ou apenas do núcleo espermático no interior citoplasma do ovócito com auxílio de micromanipuladores (SILVA et al., 2008). Possui a grande vantagem de possibilitar a fecundação a partir de espermatozoides imóveis, de baixa capacidade fecundante e quando disponíveis em quantidade limitada, sendo de extrema importância para a manutenção de animais em risco de extinção (GRACIANO, 2014).
Os avanços na biotecnologia reprodutiva permitem, ainda, a criopreservação dos gametas masculinos e femininos ou, mesmo, do embrião gerado pela fecundação in vitro, de modo a possibilitar o posterior uso em ciclos de transferência embrionária. Segundo Alminana (2018), esse é um avanço importante tanto para a reprodução humana quanto animal, uma vez que seja por razões médicas ou escolha do paciente, para conservar o germoplasma animal visando a manutenção de espécies em risco de extinção ou utilização em estudos futuros, a criopreservação de embriões possibilita a manipulação do tecido embrionário no momento em que se faz necessário, permitindo que os avanços nas biotecnologias reprodutivas presentes e futuras sejam aplicadas a embriões coletados no passado. Ainda, possui alta eficácia e segurança, com altas taxas de sobrevivência e implantação embrionário.

Por fim, a clonagem. Esta levanta debate político, religioso e moral quanto a aplicação na reprodução humana, sendo proibida em muitos países e considerada uma prática eticamente questionável devido a questões de segurança e preocupações com a dignidade humana. Consiste na transferência do núcleo de uma célula somática (não reprodutiva) para um ovócito (célula reprodutiva) sem núcleo. Em seguida, o ovócito é estimulado (elétrica ou quimicamente) para iniciar o desenvolvimento embrionário, resultando em um clone genético do doador da célula somática que se desenvolverá no útero em que for implantado (CASTIGLIONE et al., 2018). Já foi realizada em diversas espécies animais, como cabras, porcos, vacas e ovelhas, sendo nesta última a primeira clonagem de sucesso, na famosa ovelhinha Dolly, criada por investigadores do Instituto Roslin, na Escócia. Entretanto, é necessário frisar que o processo de clonagem não tem 100% de eficácia e, mesmo para os casos de sucessos, os indivíduos gerados são mais susceptíveis a anomalias congênitas e envelhecimento precoce, uma vez que surgem a partir do núcleo de uma célula que já passou por um determinado número de ciclos mitóticos, com redução telomérica em seus cromossomos e consequente desgaste do material genético.
Dessa forma, é possível perceber os vastos benefícios da biotecnologia aplicada à reprodução humana e animal, como a manipulação e controle reprodutivo, bem como para a criação de animais geneticamente superiores. Entretanto, levantam preocupações éticas e sociais, gerando questionamentos sobre a vida e a dignidade humana, enquanto a clonagem pode levantar preocupações sobre a segurança e a identidade pessoal.
Referências:
Silva L.D.M., Silva A.R. & Cardoso R.C.S. 2008. Atualidades em biotecnologia reprodutiva em cães. Acta Scientiae Veterinariae. 36(Supl. 2): s165-s178.
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